As mudanças de hábitos de consumo e os negócios que devem prosperar em um cenário de crescimento econômico.
Por Katherine Rivas
Nos anos de crise, poucos setores no Brasil cresceram de maneira tão consistente quanto o atacarejo. Com a economia agora mostrando sinais de recuperação, que desafios o futuro reserva para o setor? Para responder essa e outras perguntas, a Associação Brasileira dos Atacadistas de Autosserviço está promovendo em outubro, em São Paulo, o ABAAS Workshop 2019, que reúne representantes da categoria e especialistas do universo do varejo brasileiro.
Estudos de mercado realizados pelas consultorias Kantar, Advantage, Nielsen e GS&Consult reforçam o sólido avanço do atacarejo no país e demonstram que o público deverá se manter fiel a esse modelo de negócios nos próximos anos. Para isso acontecer, dizem os especialistas, será preciso continuar investindo na melhoria da experiência de compra, em entregas cada vez mais eficientes e na manutenção de preços competitivos.
Estudos confirmam o crescimento do atacarejo nos últimos anos e reforçam que o público continuará fiel a esse modelo de negócios
Segundo a Kantar Consultoria, economias que passaram por crises e se recuperaram experimentaram um fenômeno conhecido como “Value for Money”, que consiste no fornecimento de produtos e serviços com maior valor agregado sem deixar de considerar a relação custo-benefício. No caso brasileiro, o consumidor aprendeu, nos tempos de crise, a comprar no atacarejo, e esse novo hábito de consumo dificilmente será abandonado. Jean Paul Rebetez, sócio-diretor da GS&Consult, detalha a lógica do consumidor. “Se eu sei que consigo fazer o meu dinheiro render mais gastando 15% menos, por que deveria abrir mão desse ganho real?” questiona. Atualmente, segundo ele, a diferença de preços entre o atacarejo e o varejo convencional oscila entre 15% a 20%, e certamente os consumidores que descobriram essa vantagem não
estão dispostos a ignorá-la. Para Roberto Butragueño, diretor de atendimento de varejo e e-commerce da Nielsen, a crise forjou um consumidor mais inteligente, com acesso a um maior número de informações e que não está disposto a pagar caro, mesmo por itens de valor agregado. Acima de tudo, ele aprendeu a valorizar o dinheiro. “Agora, o consumidor sabe onde comprar mais barato”, diz Butragueño. Nos últimos anos, o atacarejo, de fato, caiu no gosto do consumidor brasileiro. Segundo dados da Kantar, a penetração do setor nos lares do país passou de 25% em 2011 para 63% em 2019. Não é só. Em 2016, 13% do orçamento das famílias era destinado a compras no atacarejo. Em 2019, o índice está em 19%. A frequência de visitas às lojas também cresceu. Em 2011, os consumidores iam a alguma unidade de atacarejo oito vezes por ano. Atualmente, a frequência é mensal.
Para Rebetez, da GS&Consult, a consolidação do modelo de negócios do setor se deve a duas razões principais. A primeira delas é liderada pelo consumidor final, que escolheu o atacarejo em busca de preços mais baixos. A segunda frente é resultado do avanço do empreendedorismo no Brasil. Pequenos varejistas e microempreendedores são responsáveis por 65% das compras. “São os donos de pizzaria, bares, restaurantes, barracas e carrinhos de comida, ou aqueles que se dedicam à venda de marmitas ou comida por delivery”, diz Rebetez.
Outro estudo, desta vez realizado pelo Advantage Group, apontou os desafios impostos a este mercado. Entre as medidas que o atacarejo deve adotar, segundo o levantamento, estão o planejamento de médio e longo prazos, sintonia fina com a indústria e melhoria dos processos de entrega. “É importante também que o atacarejo invista em produtos exclusivos e embalagens econômicas” recomenda Ana Fioratti, do Advantage Group.
Em 2020, o segmento deve entrar na corrida do Customer Centricy, como são chamadas as estratégias que colocam o consumidor no centro do negócio. Significa, portanto, que as empresas deverão buscar permanentemente formas de aprimorar o atendimento, oferecer ambientes agradáveis, colocar nas gôndolas amplo sortimento de produtos e trabalhar duro para manter preços baixos. A boa notícia é que a maioria das redes de atacarejo já faz isso, principalmente as que têm tradição no atacado. Em um cenário de crescimento econômico, iniciativas como essas tendem a conquistar cada vez mais clientes
As tendências do atacarejo em 2020, segundo a Nielsen, Kantar, Advantage e GS&Consult
Omnichannel:
Investir na integração de lojas físicas e do e-commerce é o segredo para conquistar especialmente os consumidores da nova geração
E-commerce:
Para seduzir novos clientes, é preciso melhorar prazos de entrega e diminuir os custos do frete
Mobile:
Pode auxiliar o setor a entender o consumidor e melhorar estratégias de relacionamento. Atualmente, 40% das vendas online ocorrem pelo celular, em aplicativos
Delivery:
É importante desenvolver sistema de delivery próprio, para realizar entregas mais rápidas especialmente ao pequeno varejista
Meios de pagamento eficientes:
Criação de linhas de crédito para o pequeno varejista
Diversificação de serviços:
Oferecer variedade de serviços nas lojas físicas. Entre eles,lanchonetes, petshops e farmácias
Diversificação de produtos:
Estudar a possibilidade de vender nas unidades itens como móveis e eletroeletrônicos
Fonte: Revista ABAAS nº 9 | Outubro de 2019
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