A Retomada é para Valer

dez 4, 2019

Depois da recessão de 2014 a 2016 e da lenta retomada dos últimos 2 anos, economia brasileira deve avançar 2% em 2020. Para o setor de atacado de autosserviço, é hora de crescer com responsabilidade e qualidade

Por Katherine Rivas

Com o PIB mais forte e maior geração de empregos, vendas do atacarejo devem acelerar

Depois da recessão entre 2014 e 2016, esperava-se retomada mais forte da economia em 2017. O crescimento não veio. Em 2018, a expectativa era pelas eleições de um candidato pró reformas. Jair Bolsonaro foi eleito e as reformas estão seguindo, mas o crescimento ainda é tímido – não deve superar 1% em 2019. Agora, as esperanças recaem sobre 2020. A pergunta que se faz é: será, de fato, um ano de crescimento mais robusto ou mais uma decepção?

Segundo economistas consultados pela reportagem, 2020 não deve ser nem um ano de decepção nem de euforia. O Boletim Focus, publicação do Banco Central com opiniões de diversos analistas de mercado, mostra que a expectativa para 2020 é de uma alta do PIB de 2% – bem melhor do que os 0,87% projetados para 2019. Ainda
é um crescimento tímido, que não recoloca o país no patamar pré-crise, mas abre boas possibilidades de crescimento para o setor de atacarejo.

Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados, projeta alta de 1,6% para o PIB em 2020. Ele diz que, para essa alta se materializar, o ano não poderá ter surpresas, como a greve dos caminhoneiros, que prejudicou o crescimento em 2018. O que está no radar – e pode afetar o ano – são repercussões do Brexit (a saída do Reino Unido da União Europeia), a guerra comercial entre China e Estados Unidos e as eleições na Argentina (atualmente, o candidato favorito é o peronista Alberto Fernandez).

Fora as turbulências externas, há dois fatores que podem ajudar o crescimento econômico: a liberação de recursos do FGTS e a continuidade da queda dos juros. As duas medidas têm impacto direto no consumo e no crédito, duas alavancas para o PIB. O economista-chefe da MB projeta a Selic a 4,75% ao ano em 2020 – se aproveitando da inflação ainda controlada, abaixo de 4% a.a. Além da queda dos juros, outra medida que pode impulsionar o crédito é o Cadastro Positivo, que deve finalmente funcionar de forma efetiva. Vale projeta crescimento do crédito de um ponto porcentual, de 47,5% para 48,5% do PIB.

O aumento do crédito deve impulsionar as vendas de bens duráveis e semiduráveis. “Fundo de garantia é dinheiro no bolso, juro baixo é um convite do Banco Central para que as famílias tomem crédito”, diz Fernando Sampaio, economista e sócio-diretor da LCA Consultores. Para deslanchar, o consumo depende da recuperação do emprego e da renda das famílias. Segundo Vale, a taxa de desemprego para 2020 deve permanecer em 10,9%. Ele projeta aumento da renda de 2% no ano que vem.

Fernando Sampaio acredita que, em 2020, teremos uma redução lenta do desemprego acompanhada por melhorias no ambiente de consumo. Já Marcel Solimeo, economista da Associação Comercial de São Paulo, defende que a recuperação dos empregos deve ser lenta, especialmente para cargos de maior qualificação. “Temos setores como área de informática que tem pouca mão de obra. São segmentos que devem se fortalecer ano que vem”, explica.

Reformas
A aprovação das reformas tributária e da Previdência deve impactar de forma positiva a economia em 2020,
reconquistando a confiança dos consumidores e investidores. A reforma da Previdência deve ser aprovada ainda
em 2019. Já a tributária deve ocorrer no primeiro semestre de 2020, segundo os economistas ouvidos pela reportagem.

A reforma da Previdência ajudará no aumento da confiança dos empresários. Ela tem o poder de conter a dívida
pública – o que ajuda a manter o país com juros e inflação baixos. Isso impacta toda atividade produtiva. A reforma Tributária simplificará o ambiente de negócios, diminuindo o cipoal burocrático que rege o sistema tributário brasileiro. “A reforma tributária é mais urgente, mas muito mais complicada que a Previdência. Ela envolve interesses da União, dos estados, municípios e dos contribuintes, que são os menos ouvidos” diz Solimeo, que vê um verdadeiro impacto das reformas apenas em 2021.

Como fica o atacarejo
Como a retomada econômica e a agenda de reformas impactam os negócios do atacado de autosserviço? O
setor conseguiu crescer mesmo nos anos de crise. Isso ocorreu porque, com menos dinheiro no bolso, o brasileiro
teve que otimizar o consumo – e foi para o atacarejo em busca de preços menores. Na comparação com os supermercados, o atacarejo tem preços em média até 15% menores, segundo dados da consultoria Nielsen.

O atacarejo cresceu nos anos de crise e estimulou os consumidores a procurarem preços baixos

No ano que vem, a recuperação da economia deve trazer ainda mais oportunidades para o setor, que tem como objetivo crescer com responsabilidade e qualidade. Não é porque o brasileiro saiu da recessão que vai retomar os antigos hábitos de consumo. Especialistas dizem que, após cada crise, o consumidor “evolui”, ou seja, adquire hábitos de compras mais saudáveis. Ricardo Roldão, sócio do Roldão Atacadista, acredita num futuro próspero. “O ano de 2020 deve ser marcado por uma retomada dos índices positivos de renda e emprego”, diz ele. “Os mais recentes dados divulgados pelo IBGE mostram que estamos caminhando neste sentido. Cerca de 40% da força de trabalho de país é autônoma. Com a recuperação econômica, este grupo mostrará força. Veja, por exemplo, o caso
dos empreendedores da área de food service, que são nossos clientes. Uma economia mais forte terá um impacto
direto sobre este setor – e isso nos ajudará a acelerar nossas vendas. O mesmo fenômeno deve ocorrer em outros segmentos, o que deve beneficiar o atacarejo”, completa Roldão.

Solimeo, da Associação Comercial, reforça a visão de Roldão e aponta que, em 2020, uma tendência para o consumo será o aumento das compras online de alimentos. Por este motivo, será necessário que todos os canais, incluindo o atacarejo, se adaptem às inovações que têm transformado os negócios a cada dia. Ou seja: num cenário de retomada do consumo, as marcas precisam aproveitar todas as oportunidades para fisgar o cliente.

Fonte: Revista ABAAS nº 9 | Outubro de 2019
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