Atacarejo segue como o canal com melhor crescimento do varejo, com perspectivas de aceleração. Confira a entrevista exclusiva sobre o tema com Roberto Butragueño, da NielsenIQ

out 31, 2022

Presente desde o primeiro Workshop ABAAS, em 2016, a NielsenIQ vem produzindo indicadores específicos sobre o setor de atacado de autosserviço desde a década passada, acompanhando a constante ampliação do canal ao longo dos últimos anos. Em 2022, a mais recente pesquisa de tendências globais da empresa de inteligência voltou a confirmar esse movimento ao revelar um market share de 50%, com perspectivas de aceleração.

A avaliação é do Diretor Retail Service da NielsenIQ, Roberto Butragueño. Em entrevista à Revista ABAAS, ele afirma que a tendência deve seguir em alta, impulsionada pelo aumento da oferta para os consumidores. “Essa dinâmica de aberturas de lojas tem sido claramente um acelerador do crescimento do canal, e a expectativa é de que continue a contribuir dessa forma nos próximos anos, uma vez que não parece haver um abrandamento no número de aberturas no curto prazo”, analisa.

A seguir, Butragueño comenta os principais indicadores da nova pesquisa, avalia o cenário brasileiro para o Atacarejo e aponta as principais mudanças relacionadas ao comportamento do consumidor, sugerindo estratégias para as empresas do setor. Confira!

O Atacarejo é um canal que sempre mostrou um crescimento positivo em tempos macroeconômicos difíceis devido à sua proposta de valor de baixo preço, que ajuda os consumidores a economizar.
Roberto Butragueño, Diretor Retail Service da NielsenIQ


Revista ABAAS – Qual é a tendência geral revelada pela pesquisa?
ROBERTO BUTRAGUEÑO – O Atacarejo continua sendo o canal com melhor crescimento do varejo brasileiro em 2022, reforçando sua liderança e maior penetração nos lares brasileiros. São mais de 69% dos lares visitando o canal. Também aumentaram tanto a frequência quanto o ticket médio de cada visita às lojas. Esse movimento positivo reforça a liderança no varejo moderno alimentar, atingindo 50% de market share nos meses de junho e julho. E a perspectiva é de aceleração até o final do ano com as conversões de lojas Extra Hiper em Assaí Atacadista e Big em Atacadão, além de aberturas de outras bandeiras.

RA – O que está contribuindo para a continuidade dessa expansão?
RB – O Atacarejo é um canal que sempre mostrou um crescimento positivo em tempos macroeconômicos dificeis devido à sua proposta de valor de baixo preço, que ajuda os consumidores a economizar. Em um momento no qual a alta inflação dos últimos dois anos afetou claramente o poder de compra, os atacarejos foram favorecidos e continuarão a atrair novos consumidores. Adicionalmente, um dos grandes impulsionadores do canal tem sido a maior oferta ao consumidor com a abertura acelerada de novos pontos de venda do formato, com uma expansão muito mais aquecida do que qualquer outro formato de variedade de alimentos.

RA – Qual é a dimensão dessa expansão?
RB – Somente nos últimos 18 meses encontramos um aumento de mais de 20% no número de lojas de Atacarejo no Brasil, com regiões como Sul, Centro-Oeste, Rio de Janeiro e Minas Gerais com altas de mais de 30%. Essa dinâmica tem sido claramente um acelerador do crescimento do canal, e a expectativa é de que continue a contribuir para o crescimento nos próximos anos, uma vez que não parece haver um abrandamento no número de aberturas no curto prazo.

RA – O crescimento é consistente em todo o país?
RB – O Brasil sempre apresenta diferenças regionais. Porém, uma tendência comum é o crescimento do Atacarejo em todas as regiões do país nos últimos anos – todas com níveis de penetração acima de 60% dos domicílios. Em São Paulo e no Centro-Oeste, por exemplo, 80% dos domicílios já visitam regularmente o canal. O nível de penetração ainda é menor na região Sul e em estados como Rio de Janeiro e Minas Gerais, mas as taxas de crescimento são muito expressivas e o ritmo de abertura de lojas, muito acelerado.

RA – As tendências do setor no Brasil acompanham as globais?
RB – O Atacarejo brasileiro é único no mundo por suas características diferenciadas em relação a outros modelos de C&C ou atacado nos EUA, Europa ou países da América Latina. Há uma tendência global de crescimento em formatos de varejo com oferta de baixo preço, com exemplos como o crescimento exponencial de lojas de descontos na Europa nos últimos anos e, mais recentemente, em países da América Latina, como a Colômbia. Ela se reflete no Brasil com o crescimento expressivo do canal, que tem ocupado o espaço de ‘preço baixo’ na cabeça do consumidor. A grande diferença é que esse preço baixo é oferecido com marcas de fabricantes, diferentemente do modelo de marcas próprias, que caracteriza o modelo discounter.

RA – Que mudanças no comportamento do consumidor se consolidaram?
RB – O consumidor de todas as partes do mundo – e o Brasil não é exceção – está cada vez mais conectado e com maior acesso à informação para encontrar as melhores alternativas de forma rápida e direta. Vemos um consumidor cada vez mais inteligente no sentido de buscar o melhor custo-benef ício, complementando a opção de economia com uma boa experiência de compra, atendimento, sortimento e até proximidade e comodidade da loja. Esse consumidor mais exigente e focado no melhor custo-benefício veio para ficar, e todos os varejistas terão que competir com cada vez mais eficiência para entregar a melhor proposta de valor.

RA – Que tendências merecem maior atenção das empresas?
RB – As empresas devem ser cada vez mais assertivas na análise das tendências de consumo para reagir de forma rápida e eficiente a essas novas demandas. Os varejistas, cada vez mais, precisarão fazer o uso eficiente da grande quantidade de informação à disposição para definir as estratégias mais eficientes para entregar a proposta de valor ao consumidor, oferecendo eficiência de preço (com foco nos produtos com maior elasticidade e imagem de preço) e sortimento (para oferecer uma alternativa de compra completa sem criar dificuldade de escolha por excesso de oferta ou dificuldade operacional).

RA – Quais serão os principais desafios em relação a precificação e sortimento?
RB – O consumidor sempre entendeu que o Atacarejo era o formato que oferecia o preço mais barato, e esse atributo deve ser mantido para garantir o crescimento e o desenvolvimento futuro do canal. Paralelamente, houve uma evolução importante no aumento do sortimento disponível, respondendo à demanda dos clientes por uma alternativa completa de compra e acompanhando a estratégia da indústria de complementar sua política de lançamentos e inovação. Esse movimento gerou significativa complexidade operacional para o canal, com impacto direto na estrutura de custos, que, juntamente com outros movimentos do canal on-line para oferecer uma melhor experiência de compra, foi o que criou o maior desafio para o Atacarejo: manter um posicionamento estratégico de preço baixo em um cenário cada vez mais complexo.

RA – Qual pode ser o papel da indústria nesse cenário?
RB – A relação cada vez mais próxima e colaborativa com a indústria terá um papel muito importante no crescimento futuro do canal. Nesse ambiente desafiador, a colaboração é cada vez mais importante para alcançar uma estratégia de crescimento ‘ganha-ganha-ganha’: a indústria ganha entendendo o Atacarejo como um motor fundamental de crescimento; os atacarejos ganham entendendo que a colaboração com a indústria pode maximizar o crescimento e a eficiência; e o consumidor ganha com a melhor entrega de valor com base na colaboração e no uso das melhores ferramentas de ambos os lados.

RA – Que estratégias estão disponíveis para agir nesse cenário?
RB – As empresas devem acelerar ainda mais o desenvolvimento de ferramentas de inteligência competitiva para maximizar o potencial das informações disponíveis, tanto internas quanto externas, com o cuidado de filtrar dados incorretos ou incompletos. Nesse sentido, a parceria com empresas de inteligência, como a NielsenIQ, pode ter um papel fundamental e reforça a importância da cooperação estratégica da NielsenIQ com a ABAAS e com todos os seus associados.