Criatividade, Desafios e Parceria com a Indústria

set 25, 2023

O endividamento das famílias brasileiras é uma preocupação atual e, por isso, é preciso encontra
alternativas para garantir que elas consigam fazer suas compras, preservando a alta penetração do
canal nos lares

Por Vania Nocchi

Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada pela Confederação Nacional de Bens, Serviços e Turismo (CNC), em abril deste ano, 78,3% das famílias brasileiras tinham dívidas (em atraso ou não). Desse total, 86,8% deviam no cartão de crédito. A pesquisa indicou ainda que, naquele mês, 29,1% das famílias com dívidas estavam inadimplentes, ou seja, não conseguiram cumprir suas obrigações financeiras.

À Agência Brasil, a economista da CNC, Iziz Ferreira, disse que “quem tem dívidas atrasadas há mais tempo
segue enfrentando dificuldade de sair da inadimplência em função dos juros elevados, que pioram as despesas financeiras”. Em outras palavras, os juros altos diminuem a renda e prejudicam o poder de compra, achatando o consumo. Segundo o Banco Central, os juros do cartão de crédito, por exemplo, passaram de 220,22% ao ano em 2021 para 414,6% em 2023. “A atual situação econômica faz com que as pessoas, independentemente da classe social, busquem uma maior economia nas suas compras. Observamos que a frequência de compras tem se mantido, mas os consumidores têm comprado menos e realizado substituição de marcas, optando pelas mais baratas e de primeiro preço”, avalia Wlamir dos Anjos, Vice-Presidente Comercial e de Logística do Assaí Atacadista.

PARCERIA EM PROL DA COMPETITIVIDADE

Diante da situação econômica das famílias, não há segredo: os canais de compras mais usados pelos brasileiros (supermercados e atacarejos, segundo pesquisas) precisam de criatividade para driblar o problema. Os atacarejos, que atualmente têm 72% de penetração nos lares, são uma boa alternativa em relação ao custo-benefício, mas necessitam se manter competitivos para garantir que pessoas endividadas e de baixa renda consigam fazer suas compras de abastecimento e de reposição sem aumentarem ainda mais suas dívidas.

Thúlio Martins, Diretor Comercial e de Marketing do Grupo ABC Supermercados, pontua que “com a dificuldade de melhora de renda da população, o canal Atacarejo sempre se posiciona como a primeira opção mais econômica, tanto do cliente final quanto do profissional. O nosso desafio é manter uma equação custo-benefício bem equilibrada. Para isso, as negociações com nossos fornecedores precisam estar bem alinhadas com o propósito do canal”.

Se do lado de lá as famílias têm dificuldade de pagarem suas dívidas, do lado de cá é essencial adotar práticas que possam facilitar a retomada do consumo. “A indústria e os atacarejos precisam trabalhar em conjunto para identificar oportunidades, trazendo maior eficiência operacional, que impacta positivamente os preços e a competitividade do setor. Para que isso ocorra, é necessário que exista interesse e priorização (ou construção) de um canal próprio para esse diálogo, que respeite as particularidades do formato”, afirma. o representante do Assaí.

O QUE ESPERAR DO FUTURO?

Na visão de Thúlio Martins, o Atacarejo é resiliente e, por isso, deve continuar crescendo nos próximos
anos. Já Wlamir dos Anjos considera que o canal veio para ficar e que, por isso, o modelo de negócios seguirá sendo atrativo para o consumidor, pois privilegia o preço baixo e atende com eficiência ao micro e pequeno empreendedor e ao cliente final.

Além da parceria com a indústria, para garantir que o crescimento continue ocorrendo, o canal precisa se manter atualizado quanto às inovações do mercado dos pontos de vista operacional e comunicacional, principalmente. A comunicação omnichannel, por exemplo, que integra meios físicos e digitais para oferecer uma boa experiência de compra para o consumidor, é um conjunto de práticas que pode ajudar a manter o crescimento do canal.

De maneira resumida, é provável que os atacarejos continuem sendo uma opção para abastecer os lares e os negócios do setor de alimentação, com seu modelo baseado em preços baixos e grandes volumes. Mas é importante lembrar que o mercado é dinâmico e está sujeito a constantes mudanças. Por parte da indústria, espera-se que o Atacarejo tenha seus diferenciais respeitados. “Quando a indústria nos enxerga como um distribuidor de grande escala de seus produtos, ela nos direciona para cumprirmos o papel que o canal precisa fazer: chegar até o cliente profissional e o cliente final com uma competitividade acima da média do mercado”, finaliza o Diretor Comercial e de Marketing do Grupo ABC Supermercados.