O ano de 2020 foi marcado pela covid-19 e seu impacto sanitário, humanitário e econômico. Do ponto de vista dos negócios, o desafio foi enfrentar uma crise sem referências, com a necessidade de tomada de decisões em ambiente de elevada incerteza, com informações limitadas, com severas restrições operacionais e sem aprendizados do passado que pudessem orientar as ações. Líderes de negócio tiveram que responder de forma rápida, com aprendizado diário e muita colaboração. As economias sofreram de maneira generalizada, mas também houve uma aceleração na transformação digital dos negócios sem precedentes.
Crises não têm impacto homogêneo entre setores, mercados e empresas – nas muitas crises enfrentadas pela economia e pelo varejo no Brasil, encontram-se empresas que sucumbiram, encolheram, sobreviveram e prosperaram. Na duríssima crise de 2015 e 2016 – anos nos quais o varejo brasileiro caiu 4,3% e 6,2%, respectivamente – muitas companhias saíram fortalecidas, com ganhos em termos de receita, resultados e participação de mercado.
As medidas de enfrentamento das consequências econômicas da covid-19 no Brasil atuaram em três grandes frentes: preservação do emprego formal (MP 936), liquidez às empresas (crédito via bancos públicos, linhas garantidas via bancos privados e BNDES) e transferência de renda (o Auxílio Emergencial). As medidas mitigaram o impacto da pandemia e evitaram uma crise econômica e social ainda pior da que se abateu sobre o país. O emprego formal no Brasil terminou o ano em patamares similares aos do final do ano passado; e o Auxílio Emergencial distribuiu o equivalente a quase nove vezes o montante do Bolsa Família em 2019, com alcance de mais de 40% dos domicílios brasileiros (chegando a quase 60% nas regiões Norte e Nordeste).
Apesar disso, a economia sofreu, o que era inevitável. O PIB foi negativo e o mercado de trabalho informal sofreu, levando a taxa de desemprego do Brasil dos já elevados 11% para 14,6%.
O ano de 2021 será desafiador e marcado pelas seguintes incertezas que vão do verdadeiro ciclo da pandemia às medidas de estímulo econômico e liquidez a ser implementadas nos EUA, Europa, Japão e China (determinantes para a retomada consistente do varejo como um todo). As empresas e líderes precisam interpretar o comportamento futuro a partir da experiência acumulada em 2020, de uma evolução cultural e organizacional e da observação de novos modelos de negócio, que desafiarão todos a repensar estratégias e propósitos.
Alberto Serrentino
Fundador da Varese Retail,
consultor, palestrante internacional, autor, conselheiro de empresas e vice-presidente da SBVC
Fonte: Revista ABAAS nº 11